terça-feira, 2 de julho de 2013

"O Governo caiu definitivamente"

Este governo de iniciativa presidencial (desde Abril, quando o primeiro-ministro se dirigiu a Belém para pedir uma moção de confiança ao Presidente da República) caiu definitivamente com a saída do número dois do governo até então, o Prof. Doutor Vitor Louçã Rabaça Gaspar, sendo este a seu pedido exonerado do cargo, e a Dra. Maria Luís Casanova Morgado Dias de Albuquerque nomeada para ocupar o respectivo cargo. Pontos a destacar deste episódio político:
Primeiro ponto, fico surpreendido com esta saída, visto que Gaspar era o verdadeiro líder político deste governo, marcado pelo seu fanatismo do rigor financeiro, pelas pseudo-reformas do Estado, pelo pensamento marcadamente liberal e aprendiz de Wolfgang Schäuble. Passos Coelho perdeu o seu líder dentro do executivo.
Segundo ponto, a escolha para substituir Gaspar é incrivelmente má, e não merece mais algum comentário, pois a sua credibilidade é desde logo ferida pela controvérsia dos contratos swap na REFER e pela sua postura perante a comissão parlamentar de inquérito. 
Terceiro ponto, Paulo Portas, em teoria assumirá o número dois do governo, aliás já não deveria ser o número dois? Este actor político, o camaleão político de Portugal, assume com ainda mais força o estatuto de "político mais influente" em Portugal com a saída de Gaspar, visto que Gaspar seria o seu grande adversário político dentro e fora do executivo. Paulo Portas decidirá quando teremos eleições com a ruptura da coligação, pois antes, num cenário de eventual ruptura, poderíamos equacionar a hipótese de Passos Coelho, Poiares Maduro e Gaspar serem capazes de levar o Governo até ao fim do mandato. 
Quarto ponto, o Presidente da República, mas nós temos um presidente da república?! 
Quinto ponto, e o mais importante da questão, o Partido Socialista (não-Seguro) que comete mais um erro monumental, com a exigência imediata de uma audiência com o Presidente da República e a marcação de eleições legislativas antecipadas (mais uma vez). O partido não se encontra, actualmente, como uma verdadeira alternativa ao (des)governo de Passos Coelho. Isto é óbvio, Seguro ainda não demonstrou que será capaz de fazer diferente de Passos Coelho (e alguma vez demonstrará?) mas isto não prejudica algumas ideias "interessantes" que o partido tem lançado, contudo, not enough para Portugal mudar de rumo. E recentemente, com as notícias acerca de um eventual acordo cautelar entre PS e FMI para a manutenção de algumas medidas troikianas num plano de "ajustamento agradável" preocupam-me pois, se assim for, Seguro acaba mais uma vez fragilizado e o país mais fragmentado e impossível de se governar. 
Em síntese, este episódio é a demonstração clara da situação política de Portugal, estamos à deriva e com o aproximar das eleições autárquicas a queda do governo torna-se imanente e inevitável. Será o Partido Socialista capaz de emergir como um partido pós-troika? 

Fábio Amorim

Sem comentários:

Enviar um comentário