Há um erro muito difundido na nossa época que diz que em alturas de crise precisamos de políticos pragmáticos, querendo com isto dizer-se que precisamos de líderes que não se preocupem demasiadamente com ideias, ou, o que ainda seria pior, com ideais. A tese, que é opinião corrente, parece-me uma grande insensatez. A afirmação contrária é que é a verdadeira: nunca como nas grandes crises necessitamos tão desesperadamente de idealistas. Ou melhor: direi, para que não me acusem de incorrer num vício de pensamento abstraccionista que divide e opõe a teoria à prática, que na política poucas coisas são mais práticas do que os ideais.
Não me é difícil adivinhar o esgar de desprezo de quem rejeita tudo o que remotamente se assemelhe com metafísica nem o dos fervorosos apologistas dos homens de acção quando ouvirem dos meus lábios ou lerem da minha pena que a Política é ciência. Ciência prática, verdade; ciência, ainda assim. É bem possível que depois de demorarem um pouco o olhar no meu texto me acusem de ser idealista, o que para homens dessa estirpe equivale a desacreditar a minha aptidão para a vida prática. Para esses tudo o que se eleve acima do comentário político ao jornal quotidiano ou do pregão de uma ou outra ideia revestida dos caracteres do Absoluto, sublimada a móvil de toda a vida partidária, pertence a uma esfera totalmente alheia aos graves problemas do país, portando mais afinidades com o mundo das fantasias teóricas do com qualquer aspecto da realidade. No entanto, o que esses homens estão a exigir é que o homem entre na Política guilhotinado - estão a querer realizar o absurdo de o homem partir para a acção sem partir da ideação.
Mas é conveniente que eu diga o que entendo por ideal. Com a palavra ideal quero significar a convicção de estar na posse da verdade em relação a um certo número de questões fundamentais sobre a política, como o são, por exemplo, as perguntas o que é a política?, qual é o fim da política?, qual é o melhor regime político?. Estas interrogações podem parecer remotas e totalmente alheias ao que verdadeiramente interessa quando se quer fazer política. Uma reflexão mais atenta revela que não é assim. O modo como o homem responde às primeiras questões em qualquer ordem de conhecimento, acaba por determinar o modo como responde às questões que lhe são colocadas todos os dias. É característico da mente humana encontrar as suas conclusões mais particulares partindo de princípios gerais e compreender a contingência através do que é universal. Se a política não passa também por ser uma ciência, acabará por ser apenas uma prudência que se consome nas contingências do devir quotidiano - mas a prudência sem ciência é bem mais uma imprudência. É que não se pode dirigir a acção política convenientemente se não se sabe qual é a direcção; e se cada acção humana é um meio para um fim, não se pode agir eficazmente se não se sabe quais são os últimos fins a que a acção política deve ser ordenada. Quando é assim, a política assemelha-se a um navio que na sua navegação evita os bancos de areia, que é preservado dos naufrágios pelos esforços da tripulação, mas que não tem um porto em que atracar. O ideal deve ser o ponto de partida porque proclama o ponto de chegada. Por isso, em tempo de crise, em que tudo é posto em causa, não precisamos tanto do pragmatista como precisamos do idealista, que nos lembra aquelas coisas que não podem ser postas em causa. Sou da opinião que o ideal está necessariamente ligado à política enquanto encarada também como uma ciência - é na ciência, na busca metódica pela verdade, que devemos procurar o nosso ideal, a resposta definitiva, tanto quanto a pudermos obter, às questões de fundo.
É insano cindir a procura da verdade sobre estas questões da procura do bem no agir político, porque a ordem especulativa não se pode separar da ordem prática e a verdade não se distingue realmente do bem - a Metafísica prova-o. Um dos maiores males da política contemporânea é o de que ninguém já sabe ou ninguém já quer saber a resposta àquelas questões fundamentais. Enquanto assim for, todos os esforços dos nossos políticos consistirão em manter o país a rodar sobre si mesmo, sem progredir um milímetro. Enquanto não tivermos a ciência dos princípios, não podemos ter a prudência de agir concludentemente.
Mas é conveniente que eu diga o que entendo por ideal. Com a palavra ideal quero significar a convicção de estar na posse da verdade em relação a um certo número de questões fundamentais sobre a política, como o são, por exemplo, as perguntas o que é a política?, qual é o fim da política?, qual é o melhor regime político?. Estas interrogações podem parecer remotas e totalmente alheias ao que verdadeiramente interessa quando se quer fazer política. Uma reflexão mais atenta revela que não é assim. O modo como o homem responde às primeiras questões em qualquer ordem de conhecimento, acaba por determinar o modo como responde às questões que lhe são colocadas todos os dias. É característico da mente humana encontrar as suas conclusões mais particulares partindo de princípios gerais e compreender a contingência através do que é universal. Se a política não passa também por ser uma ciência, acabará por ser apenas uma prudência que se consome nas contingências do devir quotidiano - mas a prudência sem ciência é bem mais uma imprudência. É que não se pode dirigir a acção política convenientemente se não se sabe qual é a direcção; e se cada acção humana é um meio para um fim, não se pode agir eficazmente se não se sabe quais são os últimos fins a que a acção política deve ser ordenada. Quando é assim, a política assemelha-se a um navio que na sua navegação evita os bancos de areia, que é preservado dos naufrágios pelos esforços da tripulação, mas que não tem um porto em que atracar. O ideal deve ser o ponto de partida porque proclama o ponto de chegada. Por isso, em tempo de crise, em que tudo é posto em causa, não precisamos tanto do pragmatista como precisamos do idealista, que nos lembra aquelas coisas que não podem ser postas em causa. Sou da opinião que o ideal está necessariamente ligado à política enquanto encarada também como uma ciência - é na ciência, na busca metódica pela verdade, que devemos procurar o nosso ideal, a resposta definitiva, tanto quanto a pudermos obter, às questões de fundo.
É insano cindir a procura da verdade sobre estas questões da procura do bem no agir político, porque a ordem especulativa não se pode separar da ordem prática e a verdade não se distingue realmente do bem - a Metafísica prova-o. Um dos maiores males da política contemporânea é o de que ninguém já sabe ou ninguém já quer saber a resposta àquelas questões fundamentais. Enquanto assim for, todos os esforços dos nossos políticos consistirão em manter o país a rodar sobre si mesmo, sem progredir um milímetro. Enquanto não tivermos a ciência dos princípios, não podemos ter a prudência de agir concludentemente.
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