O suor escorre dos poros como uma fonte de água onde dezenas
de animais se afogam, centímetro a centímetro, pela pele vermelha. A escuridão
é limpa pelo fogo que lhes queima o ruído dos ouvidos e lhes permite fechar os
olhos. Assim permanecem, queimados por si próprios, uns pelos outros. O tempo
chicoteia-os e chama-os. Está na altura de saírem, de darem as preces por
terminadas. Ignoram a dor lancinante nas costas e nada mais fazem senão
continuar os murmúrios tão coordenados quanto uma família de patos-bravos a
atravessar o rio sem que a corrente os leve.
Ninguém os leva.
São eles que chantageiam o tempo. Ele não tem nada para lhes
tirar. Habituados a viver da natureza, fazem parte dela e apenas ela tem a
lâmina capaz de cortar o fio da vida que lhes foi dada. É a ela que agradecem.
É a ela que pedem uma vida exatamente igual à que têm.
O destino pesava-lhes. O ritual era uma troca que faziam, um
sacrifício que aguentavam para a paz prosperar. Todos eles sabiam disto, que
estavam nas mãos do destino. Quando perguntei a um se era feliz, no meio de um
silêncio calado pelos grunhidos, ele parou por meio instante e perscrutou-me
intensamente como uma criança. A
felicidade e a tristeza não podem sequer bater à porta num lugar onde se vive
sobrevivendo, todos os dias.
Não sabem o que é a felicidade porque a tomam como
garantida.
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